sábado, 4 de fevereiro de 2012

TYRRELL P34 - UM POUCO DA HISTÓRIA DE UM PROJETO REVOLUCIONÁRIO NA FÓRMULA 1


A Hot Wheels e outras marcas sempre se valem da história de alguns carros para capitalizar em cima, afinal de contas as negociações para se conseguir autorizações e licenças para produção de réplicas dos mesmos se estendem por muito tempo até serem concretizadas, geralmente é realizado um estudo para saber o apelo que cada modelo tem, só que é incrível que se deixem passar alguns detalhes como aconteceu no caso do Tyrrell P34 e neste ano apareceu na sub-série T-Hunt na versão regular na Série Básica Hot Wheels 2012, só que na cor vermelha que nunca foi utilizada no modelo original devido a uma série de motivos e o principal não era a cor original da Equipe de Fórmula 1 que lançou o projeto a Tyrrell Racing .
Então resolvemos contar um pouco da história deste carro que marcou seu nome na Fórmula 1 em uma época que os avanços tecnológicos não eram nem de perto parecidos com os atuais, e o conceito deste carro calou a boca de muitos que não acreditavam até dentro da própria equipe, chegando a vitória em um grande prêmio, vamos a ela...

Derek Gardner - Desenhista e Projetista do Tyrrell P34

O britânico Derek Gardner morreu aos 79 anos de idade no dia 07 de Janeiro de 2011. Se pouca gente fazia ideia de quem era, podemos afirmar que foi o homem que desenhou os primeiros carros da Tyrrell, entre 1970 e 1978, e deu a Jackie Stewart dois dos seus três títulos mundiais, e também ajudou a desenhar em 1969 o Matra MS 84, um carro de quatro rodas motrizes. O seu impacto num determinado período da Formula 1 foi significativo, especialmente porque foi na sua mente que imaginou, concebeu e construiu um dos carros mais radicais de sempre: o Tyrrell P34 de seis rodas.


Primeiro rascunho do P34

Projeto e Planta do Tyrrell P34

Em meados de 1975, Derek Gardner precisava de um bom chassis para substituir o confiável chassis 007. Gardner achava que era bom, mas ficaria rapidamente datado. A ideia era arranjar um chassis que conseguisse fazer ganhar pelo menos mais cinquenta cavalos em relação à concorrência, bem como conseguir uma maior aderência do carro nas curvas. E isso era importante nesse tempo, pois apesar de todos desenharem os seus chassis, praticamente toda a gente, à excepção da Ferrari, usava o mesmo motor, os mesmos pneus e a mesma caixa de velocidades Hewland de cinco ou seis velocidades. Assim, depois de pensar um pouco, Gardner teve uma ideia radical, que tinha proposto anos antes a Andy Granatelli, na USAC, para o seu carro turbina: um carro de seis rodas, quatro delas à frente, mais pequenas em diâmetro, no sentido de diminuir o arrastro causado pela velocidade em curva, facilitando a condução do piloto nessas situações.

Rapidamente, desenhou o conceito e em finais de 1974, quando Gardner e Ken Tyrrell estavam num voo transatlântico (e segundo a lenda, depois de bebidos alguns “whiskys”), Gardner expôs o desenho a Tyrrell. Este ficou em choque com tal ideia, tão radical no seu tempo e passou algum tempo a relfetir sobre isso. Depois de algumas reuniões e da construção de um protótipo, Ken Tyrrell aceitou e o carro foi construído. O conceito foi tão radical que decidiram que iria ter um nome de código diferente dos anteriores. Project 34 - P34 .


O carro estava pronto em Setembro de 1975, e Ken Tyrrell pretendia anunciar ao mundo a 22 desse mês, em Londres. Quando soube que Denis Jenkinson, o legendário jornalista britânico, não poderia estar presente, Tyrrell convidou-o para a sua casa, com o intuito de o mostrar antes da apresentação oficial, com a promessa solene de nada dizer. Quando Jenkinson viu o modelo, ele, que normalmente tinha um palavra a dizer sobre qualquer modelo, ficara sem palavras quando o viu. E a mesma coisa aconteceu quando foi mostrado à imprensa. Entre os incrédulos presentes no público estava um tal Frank Williams, então um obscuro construtor na Formula 1.

Os testes foram intensos, ao longo do Inverno de 1975-76, para provar se o conceito funcionava. Houve problemas, nomeadamente a visão dos pilotos quando o carro fazia as curvas, pois devido à altura do chassis, não conseguiam ver a posição dos pneus de dez polegadas, mais pequenos do que o normal. Isso foi resolvido com o desenho de duas janelas de plexiglass, ao nível do solo, para que os pilotos pudessem ver a pista nas curvas. Esses e outros problemas impediram do carro estar pronto antes da primeira corrida de 1976, no Brasil.

Somente em Jarama, a primeira corrida em solo europeu e a quarta da temporada é que o carro se estreou às mãos do francês Patrick Depailler. Ele tinha sido o principal responsável pelo desenvolvimento do chassis, já que Jody Scheckter queixa-se crescentemente do carro, chegando até a chamar de “pedaço de sucata”. O irónico é que foi ele que conseguiu a única vitória da história daquele carro…

Isso aconteceu no GP da Suécia, disputado no circuito de Anderstorp. Até então, o carro tinha conseguido bons resultados nas corridas em que tinha participado, nomeadamente um segundo e terceiro lugar na prova anterior, nas ruas do Mónaco. No rápido circuito nórdico, Scheckter conseguiu ser o melhor na qualificação, enquanto que Depailler conseguira o quarto lugar na grelha. Na corrida, os Tyrrell dominaram, fazendo a dobradinha e batendo os dois principais pilotos, o Ferrari de Niki Lauda e o McLaren de James Hunt. Parecia que o conceito tinha dado certo e que provavelmente seria o momento de viragem na temporada. Contudo, aquele seria a única vitória do ano e a de um carro com seis rodas. Apesar dos muitos pódios que Scheckter e Depailler conseguiram, não conseguiram ser verdadeiros candidatos ao título, e as crescentes queixas de Scheckter levaram a que este aceitasse a oferta da novata Wolf para correr na temporada de 1977.

Assim, Ken Tyrrell contratou o sueco Ronnie Peterson para o seu lugar. Vindo de uma experiência traumática com a Lotus, e depois de ter corrido grande parte da temporada de 1976 num chassis March, Peterson foi contratado pela sua velocidade pura em corrida. Contudo, consta-se que quando viu o carro pela primeira vez, afirmou de forma profética que “nunca vencerei com este chassis”.



Com o inicio da temporada de 1977 no horizonte, o chassis foi redesenhado no sentido de melhorar a sua aerodinâmica, e tinha um novo sistema de suspensão frontal, esperando que fosse capaz de melhorar o desgaste dos pneus de dez polegadas. Contudo, a relutância da Goodyear em fabricar e desenvolver esse tipo de pneus, além dos problemas do peso de tão complexo sistema, para além dos problemas com o sistema de arrefecimento dos travões, levaram gradualmente a que o chassis ficasse com crescentes problemas de fiabilidade e de desenvolvimento do chassis.

Os resultados na temporada de 1977 reflectiram isso. De candidatos à vitórias, começaram a cair lentamente para o meio do pelotão. Somente conseguiram quatro pódios e uma volta mais rápida, através de Peterson, nos Estados Unidos. Em contraste, na temporada anterior, tinham vencido uma corrida, conseguido dez pódios e duas voltas mais rápidas. Com crescente frustração em relação ao chassis e ao automobilismo em geral, Derek Gardner decide abandonar a Tyrrell no final de 1977, e a Formula 1 no seu todo. Ken Tyrrell substitui-o por Maurice Phillippe e o próximo projecto, o 008, volta a ser convencional, com quatro rodas.

Apesar de um final da história algo melancólico, nos anos 90, o chassis teve uma segunda vida, através de Gardner. Em parceria com o apresentador televisivo Simon Bull, decidiram resgatar um chassis P34 de 1977 para o fazer correr na Formula 1 históricos. Entretanto, a Avon, marca de pneus britânica, estava a fazer pneumáticos para os carros históricos e concordou em fazê-los. Com as soluções existentes vinte anos depois, Gardner por fim encontrou as soluções que encontrava e conseguiu provar que era um problema do desenvolvimento dos pneus que impediu o chassis de alcançar o enorme potencial que existia desde o seu inicio. E o carro tornou-se num carro vencedor nos Formula 1 históricos.

Quanto ao conceito das seis rodas, vários projectos surgiram por essa altura. March e Williams construíram chassis, colocando quatro rodas traseiras, para aumentar a área de aderência, e se o chassis March teve sempre problemas relacionadas com as caixas de velocidades, o chassis da Williams, construído em 1982-83, provou ser tão eficaz que a FISA decidiu que os carros passariam a ser obrigados a ter quatro rodas, terminando com as experiências com as seis rodas na categoria máxima do automobilismo.

FICHA TÉCNICA

Chassis: Tyrrell P34
Projetista: Derek Gardner
Motor: Cosworth V8 de 3 litros
Pneus: Goodyear
Pilotos: Patrick Depailler, Jody Scheckter e Ronnie Peterson
Corridas: 30
Vitórias: 1 (Scheckter 1)
Pole-Positions: 1 (Scheckter 1)
Voltas Mais Rápidas: 3 (Scheckter 1, Depailler 1, Peterson 1)
Pontos: 100 (Depailler 49, Scheckter 44, Peterson 7)


MAIS ALGUMAS IMAGENS DO TYRRELL P34

Patrick Depailler em Fuji, no Japão. Na corrida com forte chuva, o francês conseguiu um bom terceiro lugar

Ronnie Peterson com seu P34 disputa posição com a Lotus de Gunnar Nilson

Patrick Depailler na sua Tyrrell P34

Ronnie Peterson se apresentando a Tyrrel e ao lado o P34

Créditos e Fotos: Paulo Alexandre Teixeira, Daniel Machado, Wikipédia.

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